terça-feira, 23 de setembro de 2008

Traduzida pela Hilda mais uma vez


Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca

Austera. Toma-me AGORA, ANTES

Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes

Da morte, amor, da minha morte, toma-me

Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute

Em cadência minha escura agonia.


Tempo do corpo este tempo, da fome

Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,

Um sol de diamante alimentando o ventre,

O leite da tua carne
, a minha

Fugidia.

E sobre nós este tempo futuro urdindo

Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida

A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.


Te descobres vivo sob um jogo novo.

Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,

Antes do muro, antes da terra, devo

Devo gritar a minha palavra, uma encantada

Ilharga

Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar

Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo

Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sabedoria de Mãe

"Eu só estou passando uma chuva aqui..."

(Alice Braga)

Cada dia aprendo mais com ela.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Atrás da Porta


Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pêlos, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua

Francis Hime/Chico Buarque


Aqui a incomparável interpretação que me fez entender todo sentimento que ela encerra...
Ainda não sangrei assim (confesso que não desejo), porém há algo nela que sinto em mim...

Nas palavras de Kundera: “Mesmo nossa própria dor não é tão pesada como a dor co-sentida com outro, pelo outro, no lugar do outro multiplicada pela imaginação, prolongada em centenas e ecos”.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Do Desejo


Colada à tua boca a minha desordem.

O meu vasto querer.

O incompossível se fazendo ordem.

Colada à tua boca, mas descomedida

Árdua

Construtor de ilusões examino-te sôfrega

Como se fosses morrer colado à minha boca.

Como se fosse nascer

E tu fosses o dia magnânimo

Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

Hilda Hilst

Hoje sou carne...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Pesadelos?


Ontem não tive o sonho que esperava...

Porém, adormecida, tive a dose de realidade que mereço.



Como me perturba estas oscilações de humor...

Estão cada vez mais freqüentes.



Preciso livrar-me desta realidade

Esperarei acordada

Olharei no fundo dos seus olhos

E direi as palavras que lhe lançaram no nada absoluto

O lugar onde ela mereçe estar, e de onde nunca deveria ter saído.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Le Petit Prince


“Os homens no teu planeta, disse o principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e nunca encontram o que procuram... E no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num poquinho d’água... Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração...”

Antoine De Saint-Exupéry

Tento sempre lembrar-me disto, dar valor às pequenas coisas, aos "pequenos nadas"...
Talvez por isto, dou cofrinhos de CDs (com acabamento precário) ou cofrinhos com desenhos infantis de borboletas a lápis de cor, às pessoas queridas... Eles são correspondentes, em sua singularidade, aos seres únicos e incríveis que são, na realidade, os verdadeiros presentes.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Refúgio

Amar-te é algo que me dá bom dia
Que me põe a dormir a noite.
É uma praia só minha, um lugar secreto.
O meu paraíso.

E... Hoje, ao acordar, me flagrei te amando eternamente, um dia mais.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Habitante da cidade Amandopracaralho

Você já parou pra pensar se já foi amado assim?
Por alguém que se entrega a você sem pestanejar...
Que pensa em você em demasia só pra conseguir enfrentar dias inteiros ausentes de teus abraços e carinhos, da tua presença real, da tua boca...

Mas que te quer tanto que chega a te sentir por perto...

Que já dividiu a própria existência em antes e depois de ter-te encontrado...
Que sintonizou a própria mente na freqüência dos teus pensamentos...
Que projetou uma cidade em seu coração só pra te abrigar lá dentro...
Que ficaria sozinha nesta cidade só pra te ver feliz. Mesmo que com isso, ela se torne ruínas em um coração partido...

Mas esta pessoa, ficaria nessas ruínas, sozinha, pra não te ver sofrer...

Por uma pessoa que, depois de te encontrar, só consegue imaginar-se ao teu lado...
Por alguém que se recusa a aceitar que você é humano, pois te acha tão sublime que só pode considerar-te saído dos sonhos dela, e não saído de uma humanidade corrompida pela falta de esperança, característica a tempos em que sentimentos raros foram considerados extintos. Eles não percebem que seu próprio medo os impedem de despertar esses sentimentos e não se arriscam a lutar por eles...
Mas esta pessoa, esta que te ama tão decididamente, sabe o quanto isso é raro, sabe que não pode perde-te, que não pode abrir mão disso. E se o universo não deseja conspirar a favor deste amor estúpido que ela senti, ela não liga.

Veja só, você já pensou?

Ser tão intensamente AMADO a ponto deste ser que te ama ignorar o universo?

Barreiras... Esta pequena singularidade que é este ser que te ama, está disposta a enfrentá-las pra te sentir bem perto.

E a realidade? Onde ela fica nisso tudo?

Todas as barreiras e dificuldades que este SER tem que enfrentar, é a prova cabal de que isto tudo está no terreno do mundo REAL.

A linha tênue que separa o sonho da realidade já foi percebida.



domingo, 7 de setembro de 2008

Falta

Um beijo...

Dois lábios completamente nus tocam-se, sob o olhar atento de um silêncio cósmico...

sábado, 6 de setembro de 2008

Amor

"Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso 'dá lá um jeitinho sentimental'.
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facadas, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.

Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A 'vidinha' é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende."

Miguel Esteves Cardoso, in O amor é fodido