domingo, 26 de outubro de 2008

E finalmente


"As pessoas feridas são perigosas...

Elas sabem que podem sobreviver."

sábado, 25 de outubro de 2008

Ela cansou


Deus, como estou cansada...
Por que essa noite tem que chegar?
Se há uma lua lá fora... Ignoro

Eu não preciso mais sentir... E nem quero...
Seria tão mais fácil se eu pudesse escolher... Mas não posso.
Submetida... Submissa... Subversiva... Subumana...

Feneço...

Sei que mais tarde morrerei... A morte dos que dormem...

Minha prece?

Mas livrai-me dos sonhos... Amém.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Pedaços


Há [cada vez mais] pedaços menores de mim...
Tento juntar meus caquinhos...
É a primeira vez que vou arrancar o bem pela raiz...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

No ônibus


O viu e tudo nele era tão harmonicamente posicionado...
Ela tinha que olha-lo nos olhos...
Ele desviou.
Ela não mais o encarou, mas sabia que ele percebeu que havia sido notado. O sentiu procurando seu olhar novamente, era o suficiente pra ela que acendeu para si um meio sorriso.
Era a sua mensagem...
E ela pôde perceber que um dia lindo havia nascido... Que tudo ia dar certo, e mesmo que tudo estivesse difícil, ao menos isso a fazia sentir a vida seguindo um caminho... Algo estava acontecendo e isto era importante...
Olha que loucura... Viu tudo isso no rosto dele. Ele era tão lindo que ela sentiu vontade de agradecer-lhe por isso.
Acreditem, ela sentiu brotar dentro de si uma gratidão profundamente poética... Quase se dirigiu ao moço que a havia acordado para dizer com um sorriso, um caloroso obrigada... Mas há convenções. Lá havia um aviso invisível que dizia: “Proibido sorrir”.
Até ali havia um sol que ela não havia sentido...
Um céu cintilantemente azul que ela não havia notado...
E muitas coisas a serem feitas...
Pessoas insistindo em seguir em frente... Mesmo que de um jeito “humano, demasiado humano”, elas seguiam... Todos os dias ao acordarem praticavam o pequeno, subversivo e significativo gesto de continuar...

E continuamos...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Amor


Você já amou? É horrível, não? Você fica tão vulnerável. O amor abre o seu peito e abre o seu coração e isso significa que qualquer um pode entrar em você e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas. Constrói essa armadura inteira, durante anos, para que nada possa lhe causar mal. Aí uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outra entra em sua vida. Você dá a essa pessoa um pedaço seu. E ela nem pediu. Um dia, ela faz alguma coisa besta como beijar você ou sorrir, e de repente sua vida não lhe pertence mais. O amor faz reféns. Ele entra em você. Devora tudo que é seu e lhe deixa chorando na escuridão. E então uma simples frase como "talvez devêssemos ser apenas amigos" se transforma em estilhaços de vidro rasgando seu coração. Isso dói. Não só na sua imaginação ou mente. É uma dor na alma, uma dor no corpo, é uma verdadeira dor-que-entra-em-você-e-o-destroça-por-dentro. Nada deveria ser assim, principalmente o amor.
***
Neil Gaiman, Sandman
~
Mas não... Não odeio o Amor...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Parolagem da vida


Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nula.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde
mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha
de outra vida nova
que envelhece antes
de romper o novo.
Como a vida é outra
sempre outra, outra
não a que é vivida.
Como a vida é vida
ainda quando morte
esculpida em vida.
Como a vida é forte
em suas algemas.
Como dói a vida quando tira a veste
de prata celeste.
Como a vida é isto
misturado àquilo.
Como a vida é bela
sendo uma pantera
de garra quebrada.
Como a vida é louca
estúpida, mouca
e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora
de saber que é vida
e nunca nunca nunca
leva a sério o homem,
esse lobisomem.
Como a vida ria cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha.
Como a vida joga
de paz e de guerra
povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca
seu gasto realejo
fazendo da valsa
um puro Vivaldi.
Como a vida vale
mais que a própria vida
sempre renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
peito desolado
coração amante.
E como se salva
a uma só palavra
escrita no sangue
desde o nascimento:
amor, vidamor!
~
Carlos Drummond de Andrade
***
Apesar de...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Liberdade


Uma caixinha de papelão cheia de borboletas e flores...
Uma cidade de aromas intensos que nunca se acabam...
A lua cheia que sempre volta... (a companheira dos que não dormem)
A madrugada com sua música (a música dos seres que são...)
Palavras que cantam ao verem silêncios...
E sonhos... sonhos... corações que se fecham...
Outros adorariam voar... Flutuar no nada de tudo que está vazio...
Uma súplica... Não tranquem a porta antes de libertarem os corações cativos.

terça-feira, 14 de outubro de 2008


"Preciso me sentir indispensável para alguém. Preciso de alguém que consuma todo meu tempo livre, meu ego, minha atenção. Alguém viciado em mim. Para formarmos um vício mútuo."


Chuck Palahniuk, in No sufoco

***

Victor Mancini é um mostro?

sábado, 11 de outubro de 2008

Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain


– O ar alheado pode ser por estar a pensar em alguém.
– Alguém do quadro?
– Não, mais um rapaz conhecido noutro lado... Mas sente que são parecidos, ela e ele.
– Dito de outra maneira, ela prefere imaginar uma relação com um ausente a criar laços com os presentes?
– Ou talvez tudo faça para emendar a baralhada de vida dos outros.
– Mas a baralhada da vida dela, quem emenda essa?
***

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Nostalgia


As pessoas passam por nossas vidas, deixam marcas, nos transformam, nos ensinam...
E de repente... Não nos pertencem mais.
É... Elas eram suas, te pertenciam.
Havia a magia de ser parte de um todo que era mais que a soma das partes.
De repente nos deparamos com o efêmero, e quando nos espantamos tudo que nos resta é a nostalgia...
As pessoas se foram...
Mas como se foram?!
Você ainda as vê, ainda cruza com elas por corredores... Sabe que elas continuam vivendo, sonhando, cheias de medos, fúria, amor...
Você as vê e pensa: “Aprendi ‘isto’ com ela, ela era tão importante, como posso agora dizer apenas um ‘oi’ ou um ‘tudo bem’ (sendo que nada está bem...)”.
Tudo que você quer é ser parte daquele “todo” novamente...
É voltar àquela festa, em que vocês choraram juntas, depois de várias doses... Aquela na qual vocês fizeram planos, falaram de política sem entender nada dela... Aquela em que você soltou a frase daquele escritor que não a tinha dito... Onde tudo era descoberta, tudo era novo, onde a música da geração passada despertava na nossa novos sentimentos...
Mas as pessoas se foram... Elas mudaram... Você mudou...
Não sei por que isto acontece... Não deveria ser assim...
As melhores pessoas deveriam transbordar. Só acumularem em nossas vidas...
Sinceramente odeio esta nostalgia de agora.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Ausência


Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 4 de outubro de 2008

With A Little Help From My Friends

What would you think if I sang out of tune?
Would you stand up and walk out on me?
Lend me your ears and I'll sing you a song,
And I'll try not to sing out of key.
~
Oh, I get by with a little help from my friends,
Mm, I get high with a little help from my friends,
Mm, Gonna try with a little help from my friends.
~
What do I do when my love is away?
(does it worry you to be alone?)
How do I feel by the end of the day?
~
No, I get by with a little help from my friends,
Mm, I get high with a little help from my friends,
Mm, Gonna try with a little help from my friends
~
Do you need anybody?
I need somebody to love.
Could it be anybody?
I want somebody to love.
~
Would you believe in a love at first sight?
Yes I'm certain that it happens all the time.
What do you see when you turn out the light?
I can't tell you, but I know it's mine.
~
Oh, I get by with a little help from my friends,
Mm, I get high with a little help from my friends,
Mm, Gonna try with a little help from my friends.
~
Do you need anybody?
I just need someone to love,
Could it be anybody?
I want somebody to love.
~
Oh, I get by with a little help from my friends,
Mm, gonna try with a little help from my friends.
Oh, I get high with a little help from my friends,
Yes, I get by with a little help from my friends,
With a little help from my friends.
(are you sad because you're on your own?)
~
(John Lennon & Paul McCartney)
***
Apesar de termos colocado "Come together" (minha culpa!) na jukebox, é esta que eles merecem!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

História Poética


"Dos deuses que eu acreditava me fizeram acreditar em apenas três que se tornava um, entraram na minha casa, tomaram minha esposa, comeram da minha comida, conquistaram meus filhos, levaram tudo que eu tinha e até o orgulho que eu trazia nas costas.
Do pouco que me lembro que era antes, só sei que era menos agressivo, infeliz e egoísta. E de tudo que me mostraram e disseram ser civilizado vi que nada disso tem valor. E todos aqueles que eles não conseguiram fazer o mesmo, por fim, levaram então a morte, hoje as pessoas que fizeram isso não atendem pelo nome de assassinos, ladrões ou qualquer outro nome que mostre o que eles realmente fizeram e são, são chamados humildemente de colonizadores e a outra parte gentilmente se classifica como colonizados."
~
Pra não dizer que não falei de Polis...
Enquanto ela não cria um blog (marginalizados 49%) me aproveito da sua densidade poética...
És minha aprendiz de historiadora (que vai virar economista ou advogada) favorita.


E tenho dito!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Senti-me um saco plástico um dia desses...

“Era um dia daqueles, alguns minutos antes de nevar...
E havia eletricidade no ar...
Quase dá pra ouvir... né?!
E esse saco tava... dançando, comigo...
Como um garotinho implorando pra brincar...
Durou 15 minutos...
Foi nesse dia que eu percebi que havia vida por trás das coisas...
E essa incrível força benevolente, que queria que eu soubesse que não havia razão pra
ter medo... Nunca.
O vídeo é uma substituição inferior, eu sei... Mas ajuda a me lembrar...
Eu preciso lembrar...
Às vezes eu sinto que há tanta beleza, no mundo...
E eu não posso resistir...
E meu coração, ele vai, desmoronar...”.
Fragmento do filme American Beauty
~Inesquecível~

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Traduzida pela Hilda mais uma vez


Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca

Austera. Toma-me AGORA, ANTES

Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes

Da morte, amor, da minha morte, toma-me

Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute

Em cadência minha escura agonia.


Tempo do corpo este tempo, da fome

Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,

Um sol de diamante alimentando o ventre,

O leite da tua carne
, a minha

Fugidia.

E sobre nós este tempo futuro urdindo

Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida

A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.


Te descobres vivo sob um jogo novo.

Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,

Antes do muro, antes da terra, devo

Devo gritar a minha palavra, uma encantada

Ilharga

Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar

Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo

Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sabedoria de Mãe

"Eu só estou passando uma chuva aqui..."

(Alice Braga)

Cada dia aprendo mais com ela.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Atrás da Porta


Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pêlos, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua

Francis Hime/Chico Buarque


Aqui a incomparável interpretação que me fez entender todo sentimento que ela encerra...
Ainda não sangrei assim (confesso que não desejo), porém há algo nela que sinto em mim...

Nas palavras de Kundera: “Mesmo nossa própria dor não é tão pesada como a dor co-sentida com outro, pelo outro, no lugar do outro multiplicada pela imaginação, prolongada em centenas e ecos”.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Do Desejo


Colada à tua boca a minha desordem.

O meu vasto querer.

O incompossível se fazendo ordem.

Colada à tua boca, mas descomedida

Árdua

Construtor de ilusões examino-te sôfrega

Como se fosses morrer colado à minha boca.

Como se fosse nascer

E tu fosses o dia magnânimo

Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

Hilda Hilst

Hoje sou carne...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Pesadelos?


Ontem não tive o sonho que esperava...

Porém, adormecida, tive a dose de realidade que mereço.



Como me perturba estas oscilações de humor...

Estão cada vez mais freqüentes.



Preciso livrar-me desta realidade

Esperarei acordada

Olharei no fundo dos seus olhos

E direi as palavras que lhe lançaram no nada absoluto

O lugar onde ela mereçe estar, e de onde nunca deveria ter saído.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Le Petit Prince


“Os homens no teu planeta, disse o principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e nunca encontram o que procuram... E no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num poquinho d’água... Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração...”

Antoine De Saint-Exupéry

Tento sempre lembrar-me disto, dar valor às pequenas coisas, aos "pequenos nadas"...
Talvez por isto, dou cofrinhos de CDs (com acabamento precário) ou cofrinhos com desenhos infantis de borboletas a lápis de cor, às pessoas queridas... Eles são correspondentes, em sua singularidade, aos seres únicos e incríveis que são, na realidade, os verdadeiros presentes.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Refúgio

Amar-te é algo que me dá bom dia
Que me põe a dormir a noite.
É uma praia só minha, um lugar secreto.
O meu paraíso.

E... Hoje, ao acordar, me flagrei te amando eternamente, um dia mais.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Habitante da cidade Amandopracaralho

Você já parou pra pensar se já foi amado assim?
Por alguém que se entrega a você sem pestanejar...
Que pensa em você em demasia só pra conseguir enfrentar dias inteiros ausentes de teus abraços e carinhos, da tua presença real, da tua boca...

Mas que te quer tanto que chega a te sentir por perto...

Que já dividiu a própria existência em antes e depois de ter-te encontrado...
Que sintonizou a própria mente na freqüência dos teus pensamentos...
Que projetou uma cidade em seu coração só pra te abrigar lá dentro...
Que ficaria sozinha nesta cidade só pra te ver feliz. Mesmo que com isso, ela se torne ruínas em um coração partido...

Mas esta pessoa, ficaria nessas ruínas, sozinha, pra não te ver sofrer...

Por uma pessoa que, depois de te encontrar, só consegue imaginar-se ao teu lado...
Por alguém que se recusa a aceitar que você é humano, pois te acha tão sublime que só pode considerar-te saído dos sonhos dela, e não saído de uma humanidade corrompida pela falta de esperança, característica a tempos em que sentimentos raros foram considerados extintos. Eles não percebem que seu próprio medo os impedem de despertar esses sentimentos e não se arriscam a lutar por eles...
Mas esta pessoa, esta que te ama tão decididamente, sabe o quanto isso é raro, sabe que não pode perde-te, que não pode abrir mão disso. E se o universo não deseja conspirar a favor deste amor estúpido que ela senti, ela não liga.

Veja só, você já pensou?

Ser tão intensamente AMADO a ponto deste ser que te ama ignorar o universo?

Barreiras... Esta pequena singularidade que é este ser que te ama, está disposta a enfrentá-las pra te sentir bem perto.

E a realidade? Onde ela fica nisso tudo?

Todas as barreiras e dificuldades que este SER tem que enfrentar, é a prova cabal de que isto tudo está no terreno do mundo REAL.

A linha tênue que separa o sonho da realidade já foi percebida.



domingo, 7 de setembro de 2008

Falta

Um beijo...

Dois lábios completamente nus tocam-se, sob o olhar atento de um silêncio cósmico...

sábado, 6 de setembro de 2008

Amor

"Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso 'dá lá um jeitinho sentimental'.
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facadas, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.

Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A 'vidinha' é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende."

Miguel Esteves Cardoso, in O amor é fodido


quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Metade

Que a força do medo que tenho
não me empeça de ver o que anseio
que a morte de tudo que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que grito
e a outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja para sempre amada
mesmo que distante
pois metade de mim é partida
a outra metade é saudade
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a unica coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
pois metade de mim é o que ouço
e a outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
que e tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
a outra metade é um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
pois metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
e que o seu silêncio me fale cada vez mais
pois metade de mim é abrigo
a outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
mesmo que ela mesma não saiba
e que ninguém a tente complicar
pois é preciso simplicidade para fazê-la florescer
pois metade de mim é platéia
e a outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor
e a outra metade também
(Oswaldo Montenegro)


sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Amor


Você me faz feliz...
Que criatura mágica é você que pode fazer uma pessoa feliz, sem nem ao menos tocá-la?
Que feitiço é esse o seu?
Como você pode fazer com que alguém sinta esse mistério que é a felicidade, alguém que antes pensava que isso era uma quimera [e esse alguém adora essa palavra...] de mentes utópicas com corações ingênuos...
No entanto, depois do seu encanto, esse alguém senti essa felicidade todos os dias, desde o momento em que acorda e o primeiro pensamento que lhe vem a cabeça é você, até quando vai dormir e a última pessoa em que pensa lhe fez feliz o dia inteiro só por existir...
Este alguém agora não pára de flutuar... Exibe distraidamente um sorriso bobo, que de vez enquanto é acionado sem seu menor controle...
E ama... Ama de verdade... Ama com a intensidade que você ajudou a nascer dentro dela... E ela nunca amou antes...
Ela já leu poemas sobre isso, já ouviu vários depoimentos sobre tudo isso, ouviu músicas, assistiu a filmes... Imaginou que fosse maravilhoso, mas só agora entendi os poemas, pode dá seu depoimento, fazer sua própria música, imaginar-se num filme... Só agora pode senti-los percorrendo seu corpo de verdade... Agora sabe que tudo isso não é só maravilhoso, mas sublime [e essa palavra é a chave de tudo isso...]
E tudo isso a faz finalmente se sentir inteira, finalmente ela está completa...
E voltou a rezar para completar o ser mágico que a enfeitiçou.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Cabível?


"E eu dera o primeiro passo: Pois pelo menos eu já sabia que ser um humano é uma sensibilização, um orgasmo da natureza."
(A paixão segundo G.H, Clarice Lispector)


Minhas emoções não cabem em nada.

Elas transbordam.

São feras instintivas incontroláveis.

Escapam-me por onde menos espero.

Rasgam as roupas que vestem meu ser, deixam-me nua.

Arranham-me a carne e me deixam a sangrar.

O líquido vermelho desliza por minha pele nua, e com ele exponho o que o fez circular em minhas veias, a prova cabal de que sou humana, passional e imperfeita.

Então, fico a mercê dos algozes da razão e eles irão dissecá-las, analisar uma a uma enquanto sangro em um canto e despejo novas feras.

Não podemos culpá-las por me fazerem sangrar, pois a cada novo hematoma que elas me causam, elas derramam lágrimas e mais lágrimas de igual dor e sofrimento.

A razão não poderá jamais entende-las, minhas feras são minhas filhas, nasceram de minha alma, de minha essência, como as amo, nunca terei vergonha delas. Confesso, porém que já tentei controla-las, foi inútil, não posso mudar minha essência.

Às vezes elas me escapam pelos olhos, houve tempos em que saíram do meu próprio sangue, a cada nova experiência de vida mais feras nascem...

Não consigo segura-las, e quando penso que finalmente encontrei o ser que vai abraçá-las antes que elas me façam sangrar... Sinto o líquido vermelho escorrendo em minha pele nua novamente.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Película


Meu coração está envolto por uma fina película protetora
Película essa que o deixa exposto.
Ela não é resistente a pancadas, não evita feridas.
Sua única função é protegê-lo

Que tipo de proteção ela pode oferecê-lo?
De esconder-se, ela o protege...
Ela sabe que com as dores e feridas ele pode querer isso
Que ele pode tentar desaparecer...

Então ela o protege...

Faz com que onde quer que vá não possa ocultar-se
Que sempre seja visto, mesmo que cheio de hematomas.
Ela não o protege dos choques, dos baques, pois só existe...
Porém, o protege de si mesmo por existir.

Às vezes quando ele chora e lhe suplica que o deixe ir
Ela lhe recita poemas... Abraça-lhe forte...
Fala do amor, do qual ela é serva fiel
E canta até pô-lo nos braços de Morfeu...

Meu coração não sabe até quando vai precisar dela
Mas não quer perdê-la...
Talvez a mantenha ali durante toda sua existência
Protegendo-lhe de desistir.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Hilda Hilst


Como se te perdesse, assim te quero.

Como se não te visse (favas douradas

Sob um amarelo) assim te apreendo brusco

Inamovível, e te respiro inteiro


Um arco-íris de ar em águas profundas.


Como se tudo o mais me permitisses,

A mim me fotografo nuns portões de ferro

Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima

No dissoluto de toda despedida.


Como se te perdesse nos trens, nas estações

Ou contornando um círculo de águas

Removente ave, assim te somo a mim:

De redes e de anseios inundada.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Notificação


Ela cansou...
Avisem, por favor, a todos que ela cansou.
Das roupas, das palavras, Deus! Até mesmo dos sorrisos...
Ela está completamente cansada, ficará nua...
Não cobrir ou encobrir nada... Deixará tudo às vistas de todos...
Ficará muda.
Do que adiantam as palavras agora que ela cansou

Do que ela está cansada?
Da busca, da busca incessante que é viver.
Do peso, das toneladas de metros e quilômetros e litros.
E todas as medidas sem sentido que fazem o ser pesar
Ser única? Jamais conseguirá.

Agora ela está parada, na frente do nada.
Fita desafiadoramente o nada
Nem ousa pensar, pensar implica atividade.
Nem mesmo quer não sentir suas ligações cerebrais concebendo seus pensamentos.
Não sentir ou comandar seu corpo mantendo-a viva... Cansou.

Não fará poesia de seu cansaço...
Palavras... Ela está irremediavelmente cansada delas
Não lhe interessa que seu cansaço gere rimas com sentido
Cuidadosamente pontuadas
Instigantes... Perigosas... Ou... Afiadas...

Avisem.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Tentativa de Haikai, resulta em suicidio poético


Silencio dentro de mim, de sobresalto
Tudo que quer gritar, berrar!
Ou, até mesmo respirar um pouco mais alto...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Matutações


E se as pessoas esperassem realmente as respostas de todos os "Como vai?" que perguntam... Penso que alguém um dia realmente respondeu e foi frustrado por um imenso desinteresse do interlocutor, que claro, perguntou por mera cortesia e educação, "Porque esse sujeito fica tomando meu tempo com esses problemas, já tenho os meus ora", e com certeza essa pessoa realmente devia ter os dela... A decepção do sincero deve ter sido tão grande que seu DNA guardou um gene para essa lembrança, e seus descendentes nasciam sabendo que um "como vai?" é mera cortesia e educação...
E se elas realmente esperassem, agüentariam o peso de saber todos os problemas de todos os conhecidos e amigos que eram questionados? A mãe e esposa frustrada porque os filhos e marido não lhe dão atenção, esta começaria a chorar porque era uma dor tão grande amar tão intensamente e não receber o mesmo em troca, "coitada", pensaria o interlocutor?, "Então ta, até mais ver...", diria?
E o amigo que perdeu o emprego, a família está passando fome, as dividas não param de aumentar, disseram para ele não chorar, porque é um homem... Mas tudo que ele quer é um ombro que não se incomode em ficar encharcado com as lágrimas de um homem desesperado... O que recebe? Uma batidinha nas costas e "As coisas vão melhorar, cara, seja homem".
Relações de plástico são o que temos? Mas é educado perguntar como vai, mesmo que você nem pare pra ouvir a resposta, mesmo que você nem pare pra dar a resposta... Será que você percebe ao menos o que está perguntando? Será que sabemos o que é um "Bom Dia", uma "Boa noite", um "Tudo Bem?", desejamos isso toda hora, mas não nos damos ao trabalho de imaginar, ao menos, como um dia pode se tornar bom para aquela pessoa, o que levaria a uma boa noite para aquela mãe e esposa, pro amigo desempregado, como tudo pode ficar bem?
É educado perguntar como vai, é solidário parar pra ouvir, é corajoso parar pra responder.
É uma sociedade educada a que possuímos, mesmo que não faça sentido, mesmo que tudo não passe de aparências. Mesmo que seja mais calorosa uma solidária e corajosa.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Procuro


Procuro, dentro de mim, palavras
As que já existem não bastam, não servem
Onde estão as minhas!?!
Quero gritá-las mas não vêem
Elas não saem...
São minhas ninguém mais pode dizê-las...
Somente eu posso gritá-las...
Somente as minhas podem dizer tudo...

Mas onde estão as minhas palavras...

Eu as amo porque podem exprimir
o que cá dentro é inexprimivel
Eu as odeio porque podem me deixar nua...
não, não posso mostrar minha alma...
Mas como quero dize-las!
Há outras tantas, sei, mas só as minhas servem...
Escondem-se...
Tão espertas... Escapam sorrateiramente
Passam fazendo estrago por onde mais dói

E fogem de mim pelos olhos...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Padecer


Sofrimento... das dores humanas
que dicionário guarda o cerne do teu significado?
Para aguentar-te a única força que possuo
está na cor do meu esmalte...


De resto, sou de toda fragilidade
Submeto-me a incapacidade inerente de entender-te
a aptidão nata de sentir-te em todo teu desconhecido significado

E me pergunto, como posso sentir tão perfeitamente algo que mal, entendo?

quarta-feira, 19 de março de 2008

TRÊS


O três é um número incrível, ele é inesperado...
Depois do dois quem o aguardaria?
Tão problemático...
Forma o triângulo... que coisa divertida é o triângulo
O terceiro elemento ri do equilíbrio
Tudo ficaria muito bem obrigado, somente com o dois
Mas o três não se aguenta, pode esperar, ele sempre vem
Por isso gosto dele
O um é tão sem graça, bem choxinho...
Não impõe presença e mesmo que pense o contrário
Bem, encaremos o fato ele não se basta...
Então vem o dois... haha um complemento...
Reles equilíbrio... mas o três...
Ah, ele dá o que falar pode até estragar tudo
mas é o tempero, é o motivo... o pivô
Como é interessante...
Tão safado e sem escrúpulos,
tão ímpar e descompleto... tão arrasador...
Ah, mas que graça teria se ele não existisse...
No três está a continuidade
O ânimo
O empurrão para frente
Um sentido para a luta.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Um título...


O tudo que sinto não é nada

Por que seria se comparado a fome, não dói tanto...

Se comparado a guerra não destrói tão vorazmente

Se comparado a morte, não é tão definitivo...

Há tantas coisas maiores que o nada de tudo que sinto...

No entanto é esse nada em tudo que sinto

que me pertuba a alma a cada menor divisão de um segundo...

O nada de tudo que sinto, está em tudo que sou,

Determina tudo que faço

Esvazia tudo que digo.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Um mestre ensina...

Quintana é sem dúvida um grande poeta da língua portuguesa, sua poesia simples e direta pode até não exigir muito esforço interpretativo do leitor, mas com certeza exige, em sua simplicidade, uma sofisticada percepção poética.
Aqui, uma bela mensagem desse poeta que sempre nos encanta...

domingo, 20 de janeiro de 2008


(Por Arnaldo Jabor)


A idiotice é vital para a felicidade.
Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.
Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo,soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?
hahahahahahahahaha!...
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí,o que elas farão se já não têm por que se desesperar?
Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.
Dura, densa, e bem ruim.
Brincar é legal. Entendeu?
Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço,não tomar chuva.
Pule corda!
Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.
Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são:passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir...
Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore,dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!